sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O confortável túmulo do crente

Flagrei-me pensando em eufemismo. Não qualquer exemplo dessa figura de linguagem que nos ajuda a dar aquelas “noticias que chegam rápido” – a notícia ruim! O que me prendeu foi o convite para velório. Parece paradoxal (eis outra figura!). Já que é mais “normal” um convite ser para comemorações, festas!? Pois bem... Pensava em avisos de velório, fica melhor a expressão. Na verdade, ia além: refletia sobre o momento, sobre o velório. Aliás, costume esse quase tão antigo quanto o próprio ser humano. Li na Internet que pesquisadores descobriram cemitérios estimados em 60000 a.C., apesar de a necessidade de “esconder” os corpos embaixo da terra, ou mesmo de pedras, tinha um sentido diferente do atual: corpos em putrefação atraíam animais. Sendo assim, essa era uma maneira de se proteger dos predadores. E é exatamente nesse ponto que me indagava, no que se tornaram os velórios, ou melhor, como nós o entendemos hoje.
Antiteticamente ao velório, tudo começou ao assistir a uma pregação do saudoso Padre Léo. Ele, cômico e nevrálgico, proseava sobre uma viúva em um velório e o comportamento estereotipado dela e dos “convidados” presentes. Lamúrias com hora marcada, preces e vigílias bem organizadas. O padre, então, avisa sem eufemismo: “Oh! Meu irmão. Oh! Minha irmã! Cê vai morrer! Talvez, hoje! Todas as pessoas que você ama você vai perder! Todas! E só tem um ser nesse mundo que matou a morte... Chama-se Nosso Senhor Jesus Cristo! Se você não levar as pessoas que você ama até Ele, você vai viver na morte, no túmulo!” E conclui com sabedoria: “A pior morte não é aquele que começa quando a vida acaba! A pior morte é quando nós já vivemos num túmulo!” E o sacerdote alerta: hoje, muitos dos crentes vivem em túmulos. São frios, fechados, egoístas, vivem com as mãos juntas, mas olhando apenas para cima, indiferentes!
Assim, vagando nos eufemismos, parei em uma encruzilhada. Seria o amor a hipérbole que nos falta, o exagero de vida de que precisamos? Porém, ouvindo aqui e ali os crentes, de que amor falamos?, que amor procuramos? O amor a Deus ou o amor de Deus?! Ah! Sim! Faz muita diferença! O amor de Deus todos temos. É do amor a Ele que necessitamos! Viver esse amor e suas consequências, seus prazeres,suas intenções. E este que nos mantêm vivos. 
Então, metaforicamente, estamos “putrefando-nos” e atraindo animimais carniceiros, predadores de nossas almas – ao mesmo tempo em que afastamos aqueles que estão vivos, e que se veem obrigados a lembrar-se de nos uma vez por ano, em nosso dia de finado aniversário. Que ironia!

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