sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A Fazenda Onde Ninguém Sabe Onde É - Histórias para Sophia dormir

Lari, a lagartixa
Jurandir, o jacaré
&
Cacilda, a cobra

Lá na Fazenda Onde Ninguém Sabe Onde É...

Havia uma lagartixa que queria ser jacaré!
Todos os dias, ela corria para a beira da lagoa e ficava o dia inteiro conversando com o Jurandir, o maior de todos os jacarés daquela lagoa. Até que certo dia ela fez a seguinte pergunta ao amigão!
- Seu Jurandir, o senhor acha que eu posso ser um jacaré?
- HAHAHA...
Ele rolava de rir.
- Não ria, seu Jurandir! Estou falando sério! Não acha que eu também posso ser um jacaré?! Olha para mim... Tenho patinhas como o senhor. Tenho também um rabo bem pontudo, igual ao seu, minha boca é chatinha e cumpridinha, igualzinha a sua... só me faltam os dentes!
- Não é por isso que será um jacaré, Lari!
- E por que não? - Perguntou cruzando as patinhas contra o peito e com expressão de desapontamento.
- Ora, ora, minha amiga! Somos bichos diferentes, animais distintos. Cada um tem suas características, seus modos, seus costumes, sua vida!
- Quer dizer, então, que eu não posso querer ter outra vida? Sou obrigada a ser isso que me dizem para sempre? - Já estava irritada a pequena lagartixa!
Jurandir, apesar de gigante e muito forte, e temido por quase todos os animais que frequentavam a lagoa para beber água ou para tomar banho, era muito calmo, e não se assustou com o ímpeto da pequena amiguinha.
- Lari, como você iria fazer para viver conosco? Nós passamos o dia inteiro na água, pouco saímos... Você sabe nadar?
- Não sei nadar, mas posso aprender! - Ela não desistia da ideia de ser um jacaré!
Jurandir, vendo que não convenceria a pequena réptil, propôs um teste a ela.
- Pois bem, Lari! Vamos fazer o seguinte acordo: se você conseguir viver comigo e todos os outros jacarés da lagoa, por um dia inteiro e uma noite inteira, será aceita como um jacaré, e poderá viver aqui. Até ganhará outro nome, um nome de jacaré. Será Jacinta!
Imediatamente, a pequena e teimosa lagartixa aceitou.
- Quando posso começar?
Jurandir deu uma grande gargalhada, com aquela boca enorme. O som de sua risada foi tão alto que assustou todos os pássaros que por ali estavam. Foi uma revoada!
- Comece agora, Lari! Ou já posso chamar de Jacinta? - Rindo e se afastando da margem da lagoa.
- Você não tá acreditando em mim, né?! Você é um jacaré muito abusado! Mas eu vou passar por esse teste!
Lari não pensou muito... pulou na lagoa, mesmo sem saber nadar. A sorte dela é que era tão leve, que nem afundou! Ficou boiando na superfície. E batia as patinhas o mais rápido que podia, para acompanhar o Jurandir. Mas não conseguiu. Quando percebeu, já estava no meio da lagoa, e não via mais o amigão.
- Jurandiiiiiir! Amigão! - Nenhuma resposta!
Apesar desta primeira dificuldade, a pequena e corajosa lagartixa não pensou em desistir. Ela queria muito ser um jacaré! Porém, a situação começou a complicar quando ao seu lado apareceu uma cobra. Não era qualquer cobra! Era a Cacilda! A maior e mais gulosa cobra que viva naquela lagoa.
Lari teve muito medo, naquele momento. Ela sabia que a Cacilda comia qualquer bicho que coubesse em sua boca - e a boca daquela cobra era maior que Lari, da cabeça à ponta do rabo!
- Bom dia, Dona Cacilda! - Tentando disfarçar o medo, a lagartixa cumprimentou a cobra e começou a deslizar pela água, em direção à margem da lagoa.
- Onde vai com tanta pressa, pequena lagartixa?! Fique um pouco mais... podemos conversar um pouco!
- Jacinta é o meu nome. E eu sou um jacaré!
- HIHIHI! A enorme cobra ria e rodopiada em volta da lagartixa que se achava um jacaré!
- Não ria, Dona Cacilda! Por acaso eu contei alguma piada? - Nesse momento, Lari já estava sem medo, e com muita raiva da cobra, que caçoava dela.
- E você sabe que gosto tem a carne de jacaré, Senhorita Jacinta? - Cacilda nadou em direção à pequena e frágil lagartixa, perguntando com ironia.
Lari não resistiu ao gigantesco medo, e implorou, gritando o mais alto que podia, que seu amigão voltasse.
-Jurandiiiiiir! Socorro!
Ela batia as pequeninas patinhas o mais rápido que podia, mas a cobra era muito mais ágil e veloz dentro da água. A pequena lagartixa se lembrou que já havia encontrado a cobra em outra ocasião, e que havia conseguido fugir. Mas, isso foi fora da lagoa, em terra firme, lá a lagartixa tinha vantagem, além de muito veloz correndo entre as plantas, podia se esconder em qualquer buraquinho. Na água era diferente! Não era habitat dela!
Quando Lari viu a enorme boca de Cacilda aberta indo em sua direção, apenas fechou os olhos e se encolheu. Esperou alguns segundos, e nada aconteceu... Ao abrir os olhos, viu que Jurandir tinha aparecido, e com apenas um golpe com seu grande rabo jogou a cobra a muito metros, o suficiente para assustá-la e fazê-la fugir para o meio da mata que havia à margens da lagoa.
- Tudo bem, Jacinta? - Disse o amigão, rindo de soluçar!
- Meu nome é Lari! Eu sou uma lagartixa, e quero voltar para minha casa, agora!
- Claro, minha amiguinha! Mas não se esqueça de que pode me visitar todos os dias e que somos amigos, cada um com seu jeito e sua vida! - Agora, já sério e sereno, como sempre, Jurandir levou Lari até a margem, deixou a amiguinha sobre uma pedra e mergulhou de volta para o fundo da lagoa.
A pequena lagartixa voltou para casa. Não estava triste ou decepcionada. Ela entendeu que tinha passado pelo teste.
É claro que ela nunca seria um jacaré.
E o teste não era para isso.
Desde o início, Jurandir queria apenas mostrar para ela que era importante e que tinha vantagens em ser uma lagartixa.
E a Cacilda, até hoje, não entende nada do que aconteceu aquele dia!

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