Quando a
cobra viu aquilo, ela não teve quaisquer dúvidas. Correu imediatamente ao
elefante e contou tudo: eram bichos que nunca antes haviam sido conhecidos por
mais ninguém. Ela tinha certeza. O elefante, sem acreditar muito na cobra, uma
senhora já, quis conferir de perto; antes ela o alertou que fizesse silêncio.
Afinal, eram animais desconhecidos, uma multidão deles. E não se sabia do que
eram capazes e como reagiriam. E, dito isso, foi o elefante conferir. Nossa!
Foi o que se pode ouvir sair da longa tromba do elefante, enrolada atrás da
orelha. Voltaram às pressas para o centro da floresta: era necessário reunir a
todos e comunicar a descoberta.
Já todos reunidos, então,
o elefante pediu silêncio e começou o discurso. A cobra, assustadíssima, a todo
o momento interrompia o discurso para detalhar os novos animais moradores da
floresta. Adjetivos e superlativos choveram aos montes: grandes, rápidos,
irritadíssimos, muito unidos, bastante brigões etc. E as perguntas surgiam a
todo momento. Havia aqueles que queriam ver; outros sugeriram que invadissem o
meio deles e os dominassem. O elefante, na falta do leão – que não tomava
partido para não desagradar a ninguém – sugeriu que os estudassem e após,
conhecerem melhor o inimigo, chegassem a uma conclusão, para que fosse decidida
a ação a ser tomada: o leão bateu o martelo e assim foi encerrada a reunião.
Durante dias, então,
revezaram os estudiosos a observarem os novos animais: corujas, gaviões,
abutres e corvos formaram um grupo; lagartos, jacarés, cobras e lagartixas o
segundo grupo; girafas, zebras, antas, veados e búfalos o terceiros grupo;
macacos preferiram ir sozinhos e se organizaram como o quarto grupo; por fim,
onças, jaguatiricas, gatos do mato, lobos e hienas fechavam os estudos. Ao fim
de longos dias, reuniram-se novamente para expor os resultados e chegarem a um
acordo. O leão, assessorado pelo elefante – já que a cobra havia decido,
solitariamente, fugir para outra floresta, antes que o mal chegasse – pediu que
fossem entregues os resultados: O primeiro grupo avaliou os animais como de
pequeno perigo; mas, com frágeis níveis de segurança e desperdício de
alimentos: inclusive seus restos poderiam servir como alimentos para outros
animais e traria, desta forma, o benefício de evitar a caça desnecessária. O
grupo dos répteis avaliou como perigo eminente: os novos animais poluíam o meio
e eram potenciais predadores. No entanto, não avaliavam bem seus ataques e
poderiam se autodestruírem em pouco tempo. Antes mesmo que terminassem, os
répteis foram interrompidos pelos veados, pelas girafas e todo o restante de
seu grupo com o argumento que estes seriam demasiadamente prejudicados com a
convivência com estes novos animais. Pois, a partir de seus estudos sobre os
mesmos, detectaram fortes indícios de animais propensos a usurparem, até
indevidamente, do trabalho dos demais e podendo gerar a escravidão, senão uma
prisão. O leão, como líder sensato, dirigiu a palavras aos macacos antes de
qualquer conclusão. Os macacos foram os grandes advogados dos novos colegas:
para este grupo, os novos animais poderiam ajudar muito no crescimento e
fortalecimento da floresta; tinham muito o que ensinar e até agiam com extinto
de sobrevivência muito próximo ao de todos os animais. Por último, mas não
menos importante, a onça foi a porta voz de seu grupo: com um discurso direto e
objetivo, alertou a todos para o caráter impulsivo e imprevisível dos novos
moradores; mas ressaltou a grande possibilidade de boa convivência, até mesmo
grande amizade entre todos. E o leão, após todos apresentarem suas conclusões,
pediu que voltassem à outra reunião em dois novos luares.
Chegado o dia da grande
conclusão, o leão solicitou ordem e passou a palavra ao elefante:
_Amigos, como todos sabem,
temos novos moradores na floresta e precisamos conhecê-los, com o intuito de
nos defendermos e convivermos em harmonia. Acerca deste propósito, temos todos
os estudos realizados e uma conclusão: Não iremos interferir na vida deles; até
que eles interfiram na nossa. O burburinho foi imediato. Alguns comemoraram e
já faziam planos para civilizá-los; outros queriam interagir com os novos;
porém, muitos ficaram preocupados; outros descontentes. Antes, porém, de
qualquer reação impulsiva, o leão determinou:
_Temos que os nomear. É
preciso conhecer e transmitir tudo o que possamos saber sobre estes seres. Foi
então que a minhoca gritou por debaixo do pé do elefante:
_São homens. Eu sei que
são. Assim eles se denominam. Por estes dias atrás cavaram bem em minha casa,
para construir a deles, e pude ver e ouvi-los. A parcimônia de atitude e
decisão do leão, porém, começou irritar a todos. Então, antes que iniciassem
uma rebelião, ou coisa do tipo, ele, o leão líder, decretou.
_Que deixemos livres e em
paz os homens. Seres que não nos afligem e que nenhum mal nos trás.
_(A preguiça falou pela
primeira vez e calou-se novamente) Espero que eles pensem o mesmo.
_Será que eles já sabem de
nos? Indagou o camaleão.
Rodrigo
de Assis Davel, Cachoeiro de Itapemirim, 18 de novembro de 2011
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira. Rio, 27 de dezembro de 1947
Rodrigo,
ResponderExcluirOs animais são melhores que os homens, sempre. Espetacular seu texto, você é muito criativo. E com o poema O Bicho de Manuel Bandeira podemos concluir que a miséria sempre existiu, e continua existindo após mais de 50 anos, muito triste.
Um ótimo fds, um abraço.
Um texto criativo que mostra quem somos nós. Abçs.
ResponderExcluiros bichos são fantásticos...o homem é pior dos bichos....
ResponderExcluirtexto perfeito!!!!
beijo!
Zil
Quanta criatividade!
ResponderExcluirE a realidade a nosso respeito é dura...
Um beijo.
Oi,Rodrigo!Nossa que história,muito bacana!O pior de todos os bichos é o homem somos nós que estamos destruindo ocm a natureza, infelizmente...
ResponderExcluirBeijosss
Ótimo texto para reflexão!
ResponderExcluirAbraços,
Angela
Oi Ricardo,
ResponderExcluirLi teu texto com olhos de Professora, e olha que está morfológica e sintacticamente muito bem estruturado.
Quanto à história é bem interessante, aliás já a conhecia, e como é bonito ver as reações dos animais no "concílio".
QUE VIVA A ONÇA!
ALERTA À HUMANIDADE!
OS ANIMAIS SÃO NOSSOS AMIGOS.
Li o poema de Manuel Bandeira, que faz pensar, e muito.
Desejamos um mundo melhor para todos.
Escutei o vídeo postado e adorei ver tão belas imagens (gostei, particularmente das ovelhinhas, bem fofinhas).
Bom fim de semana.
Beijos carinhosos de luz.
Olá amigo Rodrigo. Belo texto! Adorei também o vídeo. Penso que deveriamos ser como os animaes! Essas criaturas tão especiaes. Que hája conciência respeito aos animaes. Parabéns amigo! Obrigada pelo carinho sempre. Bjos e exelente domingo!
ResponderExcluirEste teu poema dói. Todos os dias nos cruzamos com irmãos que catam um pouco de pão.
ResponderExcluirJá encontrei aqueles/as que se prostituem para dar pão aos filhos.
Não consigo dizer mais nada............
Olá,
ResponderExcluirvocê nos ajudou a chegar nos 1000 seguidores, por este motivo, vou lhe enviar um livro nosso, me passa seu endereço com CEP pelo email adrianavargas.ocadv@hotmail.com
MUITO OBRIGADA PELO APOIO! NUNCA MAIS VAMOS ESQUECER O NÚMERO 1000 DE NOSSO CLUBE.
muitíssimo obrigado :) sigo*
ResponderExcluirGostei tanto, tanto, tanto, que fiquei sem palavras e eu sem palavras é como uma coruja sem opinião :)
ResponderExcluirObrigada pelo comentário e visita.
Interessante texto.
ResponderExcluirbichos e nomes..homens e bichos..
ResponderExcluirbeijo.
Os homens são mesmo dotados de razão? Por vezes, creio que, perto das monstruosidades praticadas, não.
ResponderExcluirE os animais? Agem pra se defender, do homem, da fome, e do espaço, que dia-a-dia, roubamos deles,
Bjkas
Boa tarde, obrigada pelo carinho em meu blog., passei por aqui e gostei do que li e ouvi(video), vou ficar por aqui e dia ou outro te visito ok? Abraços
ResponderExcluirahah, obrigada :)
ResponderExcluirOi Rodrigo, muito bom o texto, e penso que assim como tem muita gente ruim também tem gente boa e são essas que fazem a diferença.
ResponderExcluirAhh, veja a campanha que faço pra retirada da verificação de palavras nos coments...
Obrigada pela visita, uma excelente semana pra ti, beijos
Rodrigo,uma história bem legal e interessante!No final, os bichos ainda nao temiam os homens,nao sabiam da maldade que ele era capaz...eu adorei o conto e tb a musica muito bem escolhida!bjs e boa semana!
ResponderExcluirFantástico post meu querido...amei...
ResponderExcluirInclusive a musica, bem legal, não conhecia...parabéns pelo texto...perfeitoooo...esse tal bicho Homem é perigoso, tem que se tomar muito cuidado com ele, infelizmente os bichos não sabiam ainda o quanto...agora acho que já descobriram...
Beijos e feliz semana!
Valéria
adorei ler seu texto...inteligente e nos faz pensar! pobres animais, desconhecem a irracionalidade dos homens! obrigada por ires ao meu blog...voltarei. meu abraço
ResponderExcluirÉ uma pena o fato de sermos os únicos animais racionais da Terra e, talvez por esse motivo, a única espécie que não sabe respeitar o limite do outro, que não consegue viver em harmonia sem degradar o solo, as águas e o ar. Belíssimo texto, amigo. Parabéns! Ah! Obrigado por visitar o Meio Desligado, tá? Abração, seu blog é demais!
ResponderExcluirQue texto espetacular Rodrigo
ResponderExcluirCriativo demais
Gostei da música também, adoro ela.
Um beijo!
belleza perfecta entre musica y texto, realmente fuera de serie, me sorprendiste, un gran abrazo, siempre es un placer pasar por aquí.-
ResponderExcluirO homem vem aí. Lembrei-me de Passaredo, de Chico Buarque e Francis Hime.
ResponderExcluir"Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí"
Abraços, Rodrigo.
Olá,Rodrigo!!
ResponderExcluirUm belo texto meu amigo!!Com crítica social!!
Dá o que pensar...não é?!!
E a poesia encerra bem...vendo algumas atitudes dos "seres humanos",as vezes me pergunto, quem são os verdadeiros animais???!
beijos pra ti!!!
Tudo de bom!
Boa noite meu amigo!
ResponderExcluirTexto instigante demais ...e aconpanhado com essa música fez a diferença sim...
bjs
São diferentes e parecidos ,
ResponderExcluirsão bichos ...
Belo texto Rodrigo .
Um Beijo :)
Caros amigos
ResponderExcluirAs palavras
simples
tem o dom
de aquietar o coração.
São preciosas
em sua ternura
e infinitas
em suas inspirações.
Viver é se fazer eterno
para o coração de alguém.
Gostei do texto reflexivo e da música! Bela postagem! um abraço meu amigo! :)
ResponderExcluir"... e para ter força é preciso sonhar!"
ResponderExcluirMARAVILHOSA COMPLEMENTAÇÃO
Obrigada!
Interessante e lindo, reflexivo texto! abraços,tudo de bom,chica
ResponderExcluirQue texto bacana....não conhecia, mas a medida que eu ia lendo já sabia que os novos moradores seriam homens rsrsrsrs
ResponderExcluirabraços
Um espetáculo de post...
ResponderExcluirObrigado pela sua companhia.
Bom fim de semana.
beijooo.
Está sendo ótimo "dar um passeio" por este BIXUDIPÉ, Rodrigo.
ResponderExcluirBandeira e seu "O bicho" são fantásticos!
Abração, Fábio Brito