O Barroco foi de suma importância à literatura, nem é preciso dizer que à vida, né?, mas, foi preciso
surgir o Arcadismo, e este surgiu a priori para combater ao Barroco, para dar equilíbrio ao fazer literário. Afinal, o Barroco nunca deixou de existir.
Casa No Campo - Elis Regina
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por Rodrigo Davel
Os árcades eram, e ainda
são, fiéis pessoanos¹ – ao menos no que se referem ao fingimento, ao poeta ser
um fingidor. Toda aquela ladainha e cantilena de lócus amoenus, carpe diem e
fugere urbem não era mais que burgueses ambiciosos almejando o lugar
privilegiado do clero e da nobreza. Assim se constitui o Setecentismo no
Brasil, ou pseudonimamente aclamado como Neoclassicismo – uma boa pedida ao
paganismo. Por conseguinte, o convencionamento amoroso era isca aos mais
inocentes e poéticos – todavia, isso cresceu e veio formar o Romantismo, com
toda a sua subjetividade e idealização amorosa, bem árcade, não é? Agora, não
é que nos deparamos com pseudo-árcades em campanha política em pleno Século XXI
(nativistas políticos, falsos inconfidentes e nacionalistas da mídia). Ainda
bem que temos a literatura para nos mostrar quem é quem...
Pois é, os árcades do Século
XVIII tinham como bandeira combater o exagero barroco. A partir dos
ensinamentos do deus Pã, e da exaltação de Arcádia, com o singelo e belo
intuito de harmonizar homem e natureza, uma contradição ao momento histórico
vivido pela sociedade contemporânea a eles. Esta que era enojada pelos
bucólicos árcades, contrariamente composta, também, por eles. Tudo muito
político e fingido(!). Afinal, não se tem notícia de êxodo rural significativo
nesse, nem em qualquer outro período posterior por intelectuais ou burguesia. O
máximo que se pode afirmar é a idealização intrínseca do homem urbano em manter
uma opção de descontaminação urbana – vulgo sítio, chácara, fazenda etc. Quatro
séculos depois, pois, os anseios árcades ganham força novamente, com
particularidades moderno-virtuais, e repetem o mesmo fingimento e a mesma
ambição arcaica: 'convencionamento amoroso VS relacionamento virtual'; 'carpe diem VS redes sociais'; 'lócus amoenus VS shoppings'; e, principalmente, 'harmonia homem e
natureza VS barroquismo/rococó²&futilidade moderno-consumista'. Na epiderme
da intenção, o que buscam é a ascensão, igualar-se socialmente, talvez trocar
de posição. São todos – desculpe-me, leitor, a generalização? É que tenho
grande apreço pela hipérbole – Chico’s Mendes³ paraguaios...
Literariamente julgando –
com a licença poética pagã árcade – o Arcadismo trouxe o benefício do
equilíbrio social. Afinal, o Barroco é lindo, mas não deixa de ser exagerado(!). E teve uma adaptação imediata aos anseios desta colônia, hoje país
subdesenvolvido em plena ascensão(?), devido a sua gigantesca extensão campestre e
de desigualdade social. Sociologicamente avaliando, os árcades exercem forte
influência na ideologia de ONGs, ecologistas e políticos; mas, puro fingimento
poético-prosaico: o fugere urbem é prática raríssima, digna de matéria no
Fantástico, reportagem especial no Globo Repórter e/ou Profissão Repórter. Assim,
também estão movimentos hippies e sociedades alternativas, todos em trabalho,
militância e desfrute do meio-urbano. Porém, a forte marca estética realista
incorporada pelos árcades do Século XXI enfeia o movimento e traz um tom
apelativo desnecessário. Entretanto, preparemo-nos, o Romantismo moderno está
saindo do forno com toda sua subjetividade – graças à velocíssima linguagem
virtual, à idealização do amor – sempre perfeito e eterno em redes sociais, ao
sofrimento amoroso (fruto do distanciamento, já que computadores e similares
não dispõem de mecanismos de contato, ainda) e ao ufanismo retratado em imagens
e vídeos divulgando os prazeres nacionais. Isso é literatura: a eterna retomada
da vida. Salve Tiradentes!
1 - Referência ao poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa;
2 - "Barroco", uma palavra portuguesa que significava "pérola irregular, com altibaixos", passou bem mais tarde a ser utilizada como termo desfavorável para designar certas tendências da arte seiscentista. Hoje, entende-se por estilo barroco uma orientação artística que surgiu em Roma na virada para o século XVII, constituindo até certo ponto uma reação ao artificialismo maneirista do século anterior. O novo estilo estava comprometido com a emoção genuína e, ao mesmo tempo, com a ornamentação vivaz.
O drama humano tornou-se elemento básico na pintura barroca e era em geral encenado com gestos teatrais muitíssimo expressivos, sendo iluminado por um extraodinário claro-escuro e caracterizado por fortes combinações cromáticas.
O estilo rococó desenvolveu-se como sucessor do barroco numa ampla gama de manifestações artísticas, entre as quais se incluíam a arquitetura, a música e a literatura, assim como a pintura. Ele enfatizava a leveza, a decoração e o refinamento estilístico. Originando-se em Paris no início do século XVIII, o rococó não demorou a difundir-se para o resto da Europa.
3 - Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, é natural de Xapuri foi seringueiro, sindicalista, ativista ambiental e ultrarrevolucionário pela vida da Terra.