domingo, 28 de outubro de 2012

Nosso Cânone Literário - Arcadismo


O Barroco foi de suma importância à literatura, nem é preciso dizer que à vida, né?, mas, foi preciso 
surgir o Arcadismo, e este surgiu a priori para combater ao Barroco, para dar equilíbrio ao fazer literário. Afinal, o Barroco nunca deixou de existir.

Casa No Campo - Elis Regina

70 X 7
Os árcades eram, e ainda são, fiéis pessoanos¹ – ao menos no que se referem ao fingimento, ao poeta ser um fingidor. Toda aquela ladainha e cantilena de lócus amoenus, carpe diem e fugere urbem não era mais que burgueses ambiciosos almejando o lugar privilegiado do clero e da nobreza. Assim se constitui o Setecentismo no Brasil, ou pseudonimamente aclamado como Neoclassicismo – uma boa pedida ao paganismo. Por conseguinte, o convencionamento amoroso era isca aos mais inocentes e poéticos – todavia, isso cresceu e veio formar o Romantismo, com toda a sua subjetividade e idealização amorosa, bem árcade, não é? Agora, não é que nos deparamos com pseudo-árcades em campanha política em pleno Século XXI (nativistas políticos, falsos inconfidentes e nacionalistas da mídia). Ainda bem que temos a literatura para nos mostrar quem é quem...
Pois é, os árcades do Século XVIII tinham como bandeira combater o exagero barroco. A partir dos ensinamentos do deus Pã, e da exaltação de Arcádia, com o singelo e belo intuito de harmonizar homem e natureza, uma contradição ao momento histórico vivido pela sociedade contemporânea a eles. Esta que era enojada pelos bucólicos árcades, contrariamente composta, também, por eles. Tudo muito político e fingido(!). Afinal, não se tem notícia de êxodo rural significativo nesse, nem em qualquer outro período posterior por intelectuais ou burguesia. O máximo que se pode afirmar é a idealização intrínseca do homem urbano em manter uma opção de descontaminação urbana – vulgo sítio, chácara, fazenda etc. Quatro séculos depois, pois, os anseios árcades ganham força novamente, com particularidades moderno-virtuais, e repetem o mesmo fingimento e a mesma ambição arcaica: 'convencionamento amoroso VS relacionamento virtual'; 'carpe diem VS redes sociais'; 'lócus amoenus VS shoppings'; e, principalmente, 'harmonia homem e natureza VS barroquismo/rococó²&futilidade moderno-consumista'. Na epiderme da intenção, o que buscam é a ascensão, igualar-se socialmente, talvez trocar de posição. São todos – desculpe-me, leitor, a generalização? É que tenho grande apreço pela hipérbole – Chico’s Mendes³ paraguaios...
Literariamente julgando – com a licença poética pagã árcade – o Arcadismo trouxe o benefício do equilíbrio social. Afinal, o Barroco é lindo, mas não deixa de ser exagerado(!). E teve uma adaptação imediata aos anseios desta colônia, hoje país subdesenvolvido em plena ascensão(?), devido a sua gigantesca extensão campestre e de desigualdade social. Sociologicamente avaliando, os árcades exercem forte influência na ideologia de ONGs, ecologistas e políticos; mas, puro fingimento poético-prosaico: o fugere urbem é prática raríssima, digna de matéria no Fantástico, reportagem especial no Globo Repórter e/ou Profissão Repórter. Assim, também estão movimentos hippies e sociedades alternativas, todos em trabalho, militância e desfrute do meio-urbano. Porém, a forte marca estética realista incorporada pelos árcades do Século XXI enfeia o movimento e traz um tom apelativo desnecessário. Entretanto, preparemo-nos, o Romantismo moderno está saindo do forno com toda sua subjetividade – graças à velocíssima linguagem virtual, à idealização do amor – sempre perfeito e eterno em redes sociais, ao sofrimento amoroso (fruto do distanciamento, já que computadores e similares não dispõem de mecanismos de contato, ainda) e ao ufanismo retratado em imagens e vídeos divulgando os prazeres nacionais. Isso é literatura: a eterna retomada da vida. Salve Tiradentes!

1 - Referência ao poema  Autopsicografia, de Fernando Pessoa;
2 - "Barroco", uma palavra portuguesa que significava "pérola irregular, com altibaixos", passou bem mais tarde a ser utilizada como termo desfavorável para designar certas tendências da arte seiscentista. Hoje, entende-se por estilo barroco uma orientação artística que surgiu em Roma na virada para o século XVII, constituindo até certo ponto uma reação ao artificialismo maneirista do século anterior. O novo estilo estava comprometido com a emoção genuína e, ao mesmo tempo, com a ornamentação vivaz.
O drama humano tornou-se elemento básico na pintura barroca e era em geral encenado com gestos teatrais muitíssimo expressivos, sendo iluminado por um extraodinário claro-escuro e caracterizado por fortes combinações cromáticas.
O estilo rococó desenvolveu-se como sucessor do barroco numa ampla gama de manifestações artísticas, entre as quais se incluíam a arquitetura, a música e a literatura, assim como a pintura. Ele enfatizava a leveza, a decoração e o refinamento estilístico. Originando-se em Paris no início do século XVIII, o rococó não demorou a difundir-se para o resto da Europa.
3 - Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, é natural de Xapuri foi seringueiro, sindicalista, ativista ambiental e ultrarrevolucionário pela vida da Terra.




18 comentários:

  1. Olá, amigos. Parabéns pelo lindo post! Adorei também as imagens e claro Elis. Obrigada pelo carinho da visita! Quero dividir com vcs o selo recebido do amigo Sotnas na página de selos. Passe por lá e fique a vontade para levar! Beijos e feliz semana.

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  2. Não te sei comentar...
    Talvez que minha atenção tenha sido distraída de teu texto, pela imagem inicial que me fez lembrar Portinari e logo de seguida a "Morte e vida zeferina" que, quando a vi, a fiz também minha...

    Contudo, relendo, acho que o que tratas não anda longe da realidade portuguesa...

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    1. O importante, meu amigo, é ter fruição...

      Obrigado pela visita!

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  3. Adorei o desfecho com Skank.
    Bucolismo e poetização com cunho político, interesseiro e amoral, nem romantismos vãos e eu te amos de face ou mesas de bar, não acho que preciso dizer que não combinam comigo.
    Professores que repetem a matéria sem emoção ou lição, política, grupos sociais sem nada de social, matérias vazias de sentido e verdade nos programas de tv...Canto com Paulinha: "Deus por favor apareça na televisão".

    Sempre maravilhosos seus post e adoráveis suas visitas e comentários por lá :)

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    1. Maravilhosos são seus comentários, Tina! É sempre um prazer imenso recebê-la aqui...

      Abração, e muito obrigado, novamente, pela iluminada visita!

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  4. Boa noite !!!!!
    Saudades me trouxe aqui ...por onde anda o amigo ?
    O vídeo por si diz muito do post!!!
    bjssssssssssssssssssss

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  5. Porreta! A vida tem dessas coisas, ou as coisas tem dessa vida. Transmimento de pensassão, outro dia cá eu com minhas sinapses, pensava isso, e gostaria muito de ter escrito isso, porque pensei isso. Chato, porém verdadeiro. Para quem observa com esse olhar mais atento, pode observar a explosão do "tudo lindomaravilhoso" dos posts facebookianos e afins, por algum momento me apercebi nessa "onda" e pedi pra sair, como diria o tal da Tropa.
    Pois, ao mesmo tempo viajo nas conexões astralinas e umbralinas e eis que percebo que o mundo hoje tem urgência de algo mais próximo ao que podemos chamar de conexão com a terra, esse sentir orgânico, da essência. Mas, é bem verdade que os defensores verdes e que ainda não são os ets e alguns políticos que já devem ser os tais do mal estão todos por aí querendo levar vantagens e taus.
    Mea culpa, eu gosto imenso das imagens bucólicas.

    Bjão proCê!

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    1. Mara, querida, todos nós amantes da poesia, da literatura... da vida gostamos do bucolismo, do verde... da natureza. E por isso é que temos que nos blindar contra pseudos-defensores da natureza!
      Todavia, não quero cair na armadilha do 'Realismo fantástico'...

      Obrigadão pela visita!

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  6. E maravilhoso seguir cada post que coloca nos faz viajar pelo tempo,simplesmente fantasticos ,muito obrigado pela visita aqui deixo um enorme abraço com um enorme desejo de muitas felicidades

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  7. Esse nome me chamou atenção, porque bixodipé? Um lindo espaço cheio de conhecimento e cultura. A musica perfeita.
    Tenha um ótimo feriadão.
    Anajá Schmitz

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    1. Anajá, primeiramente, muito obrigado pela linda visita!
      Bixudipé é, acima de tudo, uma brincadeira linguística. Claro que temos a semântica bem definida. Ou seja, estamos nos referindo a nós: seres humanos racionais - um bicho tão feroz e instintivo como qualquer outro; temos o defeito/qualidade de estarmos em pé, na postura de realeza. É uma crítica aos homo sapiens em regressão...
      Mas, também podemos ser bem mais simples: ser aquela coceirinha gostosa de um bichinho de pé, que todo mundo que já teve um sente saudades...

      Abração, querida,

      Rodrigo Davel

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  8. Aos amigos obrigado pela visita e comentário. Falando em arte barroca visitei nos últimos dias uma das maiores coleções de arte sacra barroca dos últimos tempos; as obras de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, espalhadas por algumas cidades históricas mineiras.

    Abraço

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  9. Oi Rodrigo

    Este post é uma aula! Espetaculares informações.

    Músicas lindas.

    Beijinho

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  10. Caro amigo

    A literatura,
    a canção,
    o conjunto,
    tudo tão simples,
    tão belo
    e tão tocante.

    Que amar seja para ti
    o objetivo de cada instante.

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  11. E POR FALAR EM SAUDADE, ONDE ANDAM VCS?

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  12. Quantas barreiras vencemos
    no decorrer desse ano.
    Quantas ficaram para resolver
    no próximo ano.
    Quantos amizades eternas eu conquistei
    quantos se perderam no meio do caminho.
    Existe amizades eternas também as passageiras
    aquelas que enche nosso coração
    de alegria e depois parte.
    Enfim é quase Natal numa prece silênciosa
    permaneço orando com fidelidade por cada amigo(a)

    Desejo a você nesse Natal muita paz e muita luz.
    Não são os presentes que me fascina ,
    mais o aniversário de Jesus.
    Um abençoado final de semana.
    Beijos no coração e carinhos na alma.
    Evanir.

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  13. Caro amigo

    Que neste Natal,
    diante das pessoas que amamos,
    possamos ofertar a elas,
    o melhor presente
    que desejassem receber:
    Nossa vida...
    Nosso carinho...
    Nosso coração.

    Para quem crê na vida,
    Natal se faz a cada dia.
    Que assim seja o Natal
    Em tua vida.

    Aluísio Cavalcante Jr.

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  14. Obrigado, Rodrigo, pelo '70 x 7' e pelos demais "textos". É um prazer passar por aqui. Abração.

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