quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nosso Cânone Literário - Barroco


Espírito Santo
Nestas terras capixabas existem de quase tudo um pouco, barrocas terras, não? Pena que a arquitetura tome partido nulo nisso tudo. Ah!, mas as igrejas até que são bem barroquinhas, ou, como dizem por aqui, vivem embarrocadas. Será que os vocábulos são parentes? Ou barrocos? Num sei, não, seu moço. Sei é que pessoa direita deve é de escutar a igreja, não perguntar. É!, boa mecenas és tu, ó mãe divina.
Pois então, o ouro é das Minas, a cana dos paulistas, a capital em Salvador, O Rio ainda não é lindo, mas é cultural – e pra que resolveu mudar de adjetivo, né? Os holandeses só pra lá de Pernambuco se interessaram, os gaúchos têm uma crista... Mas, idaí? E a gente? Capixaba é assim mesmo, seu moço! Todo mundo vem, todo mundo é. O jeito é continuar a cantar a vida nas falas. Sabe que não tem pra onde correr. Vão bora pro mar? Lusofobia!
Mas, quer melhor terra pra viver que essa? Faz o que quiser, pro lado que tiver. Vai pra Europa, vai pro Rio; dorme na Bahia, acorda nas Minas; esconde em São Paulo; avizinha-se aos Gaúchos. E o Norte? Lá é terra de romântico, bem indianista. E aqui, é terra de quê? Do povo brasileiro. Barroco, mas não rococó, porque capixaba não nasce pra exagero; capixaba nasce pra ser do meio.
Ô terrinha mais ou menos, hein, seu moço? É terra boa, meu amigo! Terra que lhe dá escolha. É terra barroca. Sabe, agora já vou indo, seu moço. Vou voltar pro meu Sertão. É que lá não tem fronteira, mas tem uma visão... Pode deixar que não fico sozinho, Paraíba. Há sempre alguém chegando nessas terras que Deus quis assim e o homem chamou Espírito Santo. Sozinho nunca, esquecido até quando?
Rodrigo Davel, setembro de 2012

Pintura barroca de Rubens: o diálogo entre a igreja católica e os fiéis

Barroco Brasileiro
Histórico
O estilo barroco chega ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses, leigos e religiosos. Seu desenvolvimento pleno se dá no século XVIII, 100 anos após o surgimento do Barroco na Europa, estendendo-se até as duas primeiras décadas do século XIX. Como estilo, constitui um amálgama de diversas tendências barrocas, tanto portuguesas quanto francesas, italianas e espanholas. Tal mistura é acentuada nas oficinas laicas, multiplicadas no decorrer do século, em que mestres portugueses se unem aos filhos de europeus nascidos no Brasil e seus descendentes caboclos e mulatos para realizar algumas das mais belas obras do Barroco brasileiro. Pode-se dizer que o amálgama de elementos populares e eruditos produzido nas confrarias artesanais ajuda a rejuvenescer entre nós diversos estilos, ressuscitando, por exemplo, formas do gótico tardio alemão na obra de Aleijadinho (1730-1814). O movimento atinge o auge artístico a partir de 1760, principalmente com a variação rococó do barroco mineiro.
Durante o século XVII a Igreja teve um importante papel como mecenas na arte colonial. As diversas ordens religiosas (beneditinos, carmelitas, franciscanos e jesuítas) que se instalam no Brasil desde meados do século XVI desenvolvem uma arquitetura religiosa sóbria e muitas vezes monumental, com fachadas e plantas retilíneas de grande simplicidade ornamental, bem ao gosto maneirista europeu. É somente quando as associações leigas (confrarias, irmandades e ordens terceiras) tomam a dianteira no patrocínio da produção artística no século XVIII, momento em que as ordens religiosas veem seu poder enfraquecido, que o Barroco se frutifica em escolas regionais, sobretudo no Nordeste e Sudeste do país. Contudo a primeira manifestação de traços barrocos, se bem que misturado ao estilo gótico e românico, pode ser encontrada na arte missionária dos Sete Povos das Missões na região da Bacia do Prata. Ali se desenvolveu, durante um século e meio, um processo de síntese artística pelas mãos dos índios guaranis com base em modelos europeus ensinados pelos padres missionários. As construções desses povos foram quase totalmente destruídas. As ruínas mais importantes são as da missão de São Miguel, no Estado do Rio Grande do Sul.
As primeiras manifestações do espírito barroco no resto do país estão presentes em fachadas e frontões, mas principalmente na decoração de algumas igrejas, também em meados do século XVII. A talha barroca dourada em ouro, de estilo português, espalha-se pela Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, construída entre 1633 e 1691. Os motivos folheares, a multidão de anjinhos e pássaros, a figura dinâmica da Virgem no retábulo-mor, projetam um ambiente barroco no interior de uma arquitetura clássica. A vegetação barroca é introduzida na Bahia no fim do séc. XVII na decoração, por exemplo, da antiga Igreja dos Jesuítas, atual Igreja Catedral Basílica, cuja construção da capela-mor, com seus cachos de uva, pássaros, flores tropicais e anjos-meninos, data de 1665-1670. No Recife destaca-se a chamada Capela Dourada ou Capela dos Noviços da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, idealizada no apogeu econômico de Pernambuco, em 1696, e finalizada em 1724.
Entre os anos de 1700 e 1730 uma vegetação de pedra esculpida tende a se espalhar nas fachadas, como imitação dos retábulos, seguindo a lógica da ornamentação barroca. Em 1703 o dinamismo conquista o exterior pela primeira vez de forma ostensiva na fachada em estilo plateresco da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, em Salvador. No entanto, vale notar que tal exuberância representa uma exceção no Barroco brasileiro, pois mesmo em seu período áureo as igrejas barrocas nacionais, tal como as portuguesas, são marcadas por um contraste entre a relativa simplicidade de seus exteriores e as ricas decorações interiores, simbolizando dessa forma a virtude do recolhimento, requisito necessário à alma cristã. Esses primeiros 30 anos marcam a difusão no Brasil do estilo "nacional português", sem grandes variações nas diversas regiões .
Surge então um novo ciclo de desenvolvimento do Barroco entre meados de 1730 e 1760, com predominância do estilo português "joanino", cuja origem remonta ao Barroco romano. Há uma significativa barroquização da arquitetura com a construção de naves poligonais e plantas em elipses entrelaçadas. Destaca-se no período, com ressonâncias posteriores, a atuação dos artistas portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito.
Nota-se que, em meados do século XVIII, a perda da força econômica e política inicia um período de certa estagnação no Nordeste, com exceção de Pernambuco, que conhece o estilo rococó na segunda metade do século. O foco volta-se para o Rio de Janeiro, transformada em capital da colônia em 1763, e a região de Minas Gerais, desenvolvida à custa da descoberta de minas de ouro (1695) e diamante (1730). Não por acaso, dois dos maiores artistas barrocos brasileiros trabalham exatamente nesse período: Mestre Valentim (1745-1813), no Rio de Janeiro, e o Aleijadinho, em Ouro Preto e adjacências.
É na suavidade do estilo rococó mineiro (a partir de 1760) que se encontra a expressão mais original do Barroco brasileiro. A extrema religiosidade popular, sob o patrocínio exclusivo das associações laicas, se expressa em um espírito contido e elegante, gerando templos harmônicos e dinâmicos de arquitetura em planos circulares, com graciosa decoração em pedra-sabão. As construções monumentais são definitivamente substituídas por templos intimistas de dimensões singelas e decoração requintada, mais apropriados à espiritualidade e às condições materiais do povo da região.
Um dos exemplos mais bem-acabados desse estilo pode ser contemplado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767), cujo risco, frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e lavabo são de autoria de Aleijadinho. A pintura ilusionista do teto da nave (1802) é de um dos mais talentosos pintores barrocos, Manoel da Costa Athaide (1762-1830). Destaca-se ainda a parceria dos dois artistas nas esculturas de madeira policromada (1796-1799) representando os Passos da Paixão de Cristo para o Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos, em Congonhas do Campo. No adro desse santuário, Aleijadinho deixa o testemunho mais eloquente de seu talento artístico: seus 12 Profetas de pedra-sabão (1800-1805).
No Rio de Janeiro a presença lusitana se faz sentir mais fortemente. Distingue-se das outras cidades pela tendência à sobriedade neoclássica, reforçada pelas influências no Brasil da reforma pombalina. Na arte civil (por exemplo: Passeio Público, de 1779-1785 e Chafariz da Pirâmide, de 1789) e sacra de Mestre Valentim o perfeito equilíbrio entre os postulados racionais do Classicismo, a dinâmica e grandiloquência do Barroco e um certo sentido de preciosismo e delicadeza da estética rococó, sintetiza brilhantemente o espírito da arte carioca da segunda metade do século XVIII.



14 comentários:

  1. Meninos, tenho que dizer, Caetano é um ser Barroco...rsrs
    Sei algumas versões para o o termo Barroco, uma diz que vem do vocábulo espanhol barrueco, que por sua vez deriva do português arcaico. Outra diz que advém dos joalheiros do século XVI usarem a palavra barrueco para designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa, o que associa-se ao surgimento do estilo diferentão do Barroco em contraposição a disciplina e estética finas do Renascimento. Também chamavam de barrocas aquelas paredes muito altas, escarpas que surgem à beira do mar como resultado do trabalho das águas e dos ventos sobre a argila moldável.
    Penso que a maioria das pessoa ao ouvir a expressão barroco, as primeiras imagens que surgem são anjos rechonchudos, igrejas antigas.
    Alguns intelectuais filosóficos e poéticos fazem um associação da denominação da língua portuguesa como barroca as características de incompletude e maleabilidade que a natureza oferece, portanto uma língua e um povo que tem mais a ver com alma, com sentimentos, do que com os desafios da razão.
    "A escrita portuguesa é visceralmente barroca, exprimindo o sinuoso, espiralado, espontâneo, dinâmico, imprevisível e criacionista provindo da natureza"
    Literatura, renascimentos, barroquices, filosofias, poesias e boa energia pra vc´s \o/

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    1. Quase um post meu coment. Foi do tamanho da ausência de vcs...rsrs...acumulei palavras :)

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    2. Tina, querida, como é bom ler seus comentários: sempre precisos, pontuais e com uma sabedoria tão humilde nas palavras. Adoro escrever e você ler!
      Ah!, obrigado pela aula etimológica do vocábulo Barroco. Adorei!

      Um grande abraço, minha amiga,
      Rodrigo Davel

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    3. Honrada, grata e boba com sua palavras aqui e lá.
      O genial Einstein disse que "tudo aquilo que o homem ignora, não existe pra ele, por isso o universo de cada um se resume ao tamanho de seu saber", sigamos pois resumindo e expandindo nossos universos mutuamente, como mtos saberes e querer bem :)

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  2. Meus queridos, é uma alegria ver jovens como voc~es divulgando beleza e cultura. Parabens!
    Continuem na luta por um Brasil e um mundo melhor!
    Beijos
    Celle

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    1. Celle, obrigado por estar aqui! De nada adianta escrever se não ha leitor!
      É um prazer e uma honra tê-la em bixudipé!

      Abração,
      Rodrigo Davel

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  3. Adorei demais o exclente trabalho que fizeram ,acho que um pais deve ser sempre admirado pela sua cultura pois e a base de todo um povo ,vivemos num mundo de diferentes culturas ,embora Portugal e Brasil tenhamos uma variedade de pontos em comum ,mas o principal e ter orgulho sempre das nossas raizes ,um abraço

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    1. Emanuel, querido, quão grande é o meu prazer em dialogar com um irmão português. Saiba, pois, que a lusofobia é coisa do romântico lírico e, talvez, condoreiro. Eu tenho uma enorme admiração por esse povo desbravador e único na Terra.

      Um grande abraço,
      Rodrigo Davel

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  4. Amém!!!


    bom passar por aqui...

    bjs meus

    Catita

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  5. Boa noite, queridos amigos.

    O nosso país nos oferece tantas culturas diferentes...
    Há amor nas suas palavras!
    Amei...

    O lirismo me fascina, o barroco, o rococó.
    A capoeira me trás reflexões, o congado me leva às lágrimas!

    Muitas bênçãos.

    Beijos.

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  6. Rodrigo e Maycon, parabéns pela postagem, meninos! Lembrei-me da Adélia Prado: "Sou de barro e oca: sou barroca". E por falar em BARROCO, sempre ouço o CD "Boca do Inferno", lançado em 1996, em que Nilda Spencer - uma atriz baiana - diz textos do Gregório de Mattos. Há ainda o livro "Boca do Inferno", da Ana Miranda. Sempre digo que o BARROCO está no DNA de todos nós. Seta: que tal irmos a Ouro Preto? Ithamara Koorax cantando "Se eu quiser falar com Deus", do Gil: puro BARROCO. Abração.

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  7. Gostei imenso desse recanto!

    Voltarei!

    abço!

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  8. Que bom conhecer o blog de vocês. Estarei acompanhando e em breve indicando-o também através de meu blog.
    Parabéns!

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  9. Vim cutucar, coçar, trazer lavanda para os bichinhos \o/
    Boa sexta e bom fds pra vcs :)

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