Perdoe-me se não o perdoei (?). É que sou contaminado pelo
tempo em que estamos, que nos adoece. Qual é o limite do mocinho? Então, quando
se é, pois, vilão? Nosso tempo, leitor, não nos deixa opção: somos mocinhos e
somos vilões. E quem decide não é você! Outros decidem. Portanto, julgue-me
vilão, se for o caso, mas não diga que sou mocinho. Não sou mesmo! E nem ligo
para isso, porque você também não o é. Somos aquilo que podemos ser e aquilo
que em nós querem ver.
Rodrigo Davel, 04 de outubro de 2012.
Permita-me, então, discorrer ‘sobre’.
Porém, poupo-o dos exemplos-clichês. Não é que eu esteja julgando o (mau)
caráter de ninguém. Também não absolvo. Mas percebemos em nosso tempo o prazer
da disputa, não necessariamente da conquista. Pois sempre há uma nova disputa
por alguma coisa qualquer. E exatamente por isso, prefiro crer em mocinhos
desvirtuados a crer em vilões sossegados. Porém, não afirmo ser inato a ninguém
o mau-caratismo. Também não reforço a ideia behaviorista, porque sou, pois,
adepto da corrente interacionista, ou construcionista, de Piaget ¹: “Somos
tábulas rasas”(?)² que a vida trata de encher, além de ‘construir’ a
refeição que serviremos aos próximos. Quando, destarte, um mocinho permitir-se
maldar, deixará de ser mocinho.
Acontece que, a cada dia, vejo os mocinhos
com os quais convivo mostrarem garras “ala Wolverine”:
fazem o bem, desde que não sejam incomodados. O melhor amigo pode ser também
inimigo. Eis o melhor molde para nosso tempo. Estamos nos Wolverizando a cada dia, a cada escolha, a cada
rancor não tratado. Exibimos o orgulho de sermos heróis e termos garras
poderosas para o ataque ao inimigo. Definimos o inimigo pelo potencial de
disputa, o mesmo que, antes, nos unia.
O papel do mocinho sempre foi defender-se
(defender-nos), não é? Então, afinal, o que há conosco? E o amor ao próximo, ao
irmão, onde está? Os mocinhos estão recorrendo a Eclesiastes logo cedo, às 7h20. Já acordam com a
máxima: Olho por olho, dente
por dente. Em um momento de mocinho, sinto-me pequeno, fraco, um
“moço-inho”. Ah! Mas ser vilão é bem mais ão:
é ser mandão, sentir-se grandão, ser campeão, o espertão... é ter solução.
Entretanto, semelhante leitor, o mocinho é quem faz uso do ão mais forte e valioso. O mocinho
vive com o coração. E isso, mocinho, não está em disputa. Portanto, vilão,
destrua meu caminho, mas nunca vencerá meu coração.
Assim, indago-me constantemente: sujeito,
quem encheu sua tábula com tanta porcaria? Agora, por que serve isso aos
próximos? Afinal, a interação não é somente explicita. Talvez seja muito maior
a responsabilidade da interação implícita. Ao atingirmos a maturidade
necessária para distinguirmos o joio do trigo, transferimos ao ego a
responsabilidade das decisões. Ou seja, por mais lixeira que tenha sido cada
tábula, sempre é tempo de limpeza, reciclagem e reformulação. Então, tudo bem
(!) se suas influências não foram adequadas, ou as melhores. No entanto,
continuar na lama é opcional. “Certidão de nascimento não é atestado de
ignorância”³.
Sendo assim, o mal de nosso tempo é agudo,
mas ainda não é crônico. Juntemos as forças, mocinhos, e tratemos os vilões em
nós. Mas não sugiro a utopia de medicarmos uns aos outros. Não! Cada mocinho
com sua patologia, até porque adoecemos simplesmente e ninguém pode
diagnosticar a mazela por antecedência. E, assim, e somente após, perdoe-me. Pois já terei também perdoado
a todos.
1 - Piaget formula o conceito de epigênese, argumentando que
"o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de
uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com
elaborações constantes de estruturas novas". (Piaget, 1976, apud Freitas 2000:64)
2 - O filósofo inglês John Locke (1632-1704), considerado o protagonista do empirismo, foi quem esboçou a teoria da tábula rasa (literalmente ardósia em branco em português). Para Locke, todas as pessoas, ao nascerem, fazem-no sem saber de absolutamente nada, sem impressão nenhuma, sem conhecimento algum. Então, todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido pela experiência, pela tentativa e pelo erro.
3 - A expressão “certidão de nascimento não é atestado de ignorância” é de autoria do professor Fábio Brito, que ainda costuma completar a frase com outra expressão, mas na forma denotativa: “Não nasci na Idade Média. No entanto, dou aula sobre Trovadorismo”.
2 - O filósofo inglês John Locke (1632-1704), considerado o protagonista do empirismo, foi quem esboçou a teoria da tábula rasa (literalmente ardósia em branco em português). Para Locke, todas as pessoas, ao nascerem, fazem-no sem saber de absolutamente nada, sem impressão nenhuma, sem conhecimento algum. Então, todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido pela experiência, pela tentativa e pelo erro.
3 - A expressão “certidão de nascimento não é atestado de ignorância” é de autoria do professor Fábio Brito, que ainda costuma completar a frase com outra expressão, mas na forma denotativa: “Não nasci na Idade Média. No entanto, dou aula sobre Trovadorismo”.
Obrigado por ter enriquecido minha vida com a alegria da vossa presença.
ResponderExcluirGestos de amor, atenção e carinho faz ver quanto você é
tão especial no geito de ser e como são bem-vindas as suas visitas.
Agradeço a Deus pelo que conquistei até agora, mas peço a Ele para me dar sabedoria para conquistar muito mais.
E saiba que assim como eu sempre pude contar com você, você pode contar sempre comigo.
Um final de semana beijos no seu coração.
Carinhosamente:Evanir...
Sempre legal passar aqui e te ler. Desejo um fds ótimo! abraço,chica
ResponderExcluirRodrigo
ResponderExcluirvir aqui é uma lavagem de alma
kis :=)
É muito interessante a forma que vc escreve Rodrigo, sempre vc tem uma mensagem nos seus textos, só que não é de forma direta, mas sim, de forma indireta. (O que só enriquece ainda mais os seus escritos).
ResponderExcluirBeijos ^^
Rodrigo, foi-se o tempo q dava para distinguir o mocinho do vilão. As referências são dubias, os valores em todas as escalas da pirâmide social estão desestruturados. Tanto a pratica do bem como a do mal são escolhas, e essa escolha tanto para um como para o outro vai depender o qto mau ou bem lhe fará, e isso tudo devido a perda dos valores.
ResponderExcluirRodrigo, vc percebeu q os superheróis estão bombando no cinema. Abçs.
Bom dia,Rodrigo!Belíssima reflexão!
ResponderExcluirUma ótima semana!
Beijosss
Amei esse texto :)
ResponderExcluirTá mesmo td tão misturado, tanto uso abusivo e indiscriminado de máscaras, tantos papéis trocados.
Releituras, rupturas, loucuras.
Não sou santa, nem perfeita, mas sigo na busca das minhas curas, bem personalizadas, sem receitas mirabolantes e tendo a medida que posso pedir e dar perdões.
Li outro dia e achei perfeito e agregador ao post:
“O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”