Jovem Lendo (1776), Jean-Honoré Fragonard
Transposições, substituições e invenções
O Romantismo foi
um movimento - sim, claro! - positivo à nossa literatura; mas, também, negativista.
Negativos foram o sentimento religioso e a filosofia espiritualista, contrários
ambos ao espírito moderno. Foi negativa, ainda, a exaltação pueril da pátria,
encarada como algo portentoso a partir do cenário natural, o que confunde a
retidão do juízo. E negativo foi, sobretudo, o indianismo. Por significar o
endeusamento de um povo que teve tanta importância em nossa formação quanto
portugueses e negros, ainda que se procurou ressaltar como fator decisivo em
nossa diferenciação racial e social. Positivo, o nacionalismo dos
românticos foi importante para desligar a nossa vida mental da influência
portuguesa e nos abrir para outras culturas europeias.
A canção Chega de Saudade foi
escrita em meados de 1950, pelos compositores Tom Jobim e Vinícius de Morais,
gravada na voz de Elizeth Cardoso acompanhada pelo mestre da Bossa Nova, João
Gilberto, no violão. A gravação ficou conhecida como o primeiro registro
fonográfico da Bossa Nova, sendo lançada no ano de 1958, no álbum “Canção do
Amor Demais” de Elizeth, recebendo o nome de “batida da bossa nova”.
Um dia romântico
Pela manhã,
cheio de forças e pretensões,
não é possível
evitar as verdeações de minha terra.
Antes mesmo do
queijinho
de leite fresco provar,
quero já em abolições,
ouvir o canário
do Tupã cantar.
Vejam que lugar
como aqui não há.
Nem lá, nem lá.
Mas, a vida não
é só se encantar.
Só cá, só cá?
Socar negros,
socar mulheres, socar todos que puderem.
O Governo, que
Brasil.
Mas a Ordem e o
Progresso não é Igualdade, Fraternidade e Solidariedade.
Vivam os brasis:
do índio americano,
do negro africano e do português republicano.
Tarde longa,
de boa prosa com
Vieira e Matos Guerra.
Mas, a noite
logo chega, e em casa,
ao silêncio do
canário e sem o verde da minha flâmula,
recolho-me à
insensata solidão do meu pensar.
Lá na frente um Anjo
vai me mostrar os morcegos deste quarto
– Salve Augusto!
Meu trevo não
tem folhas;
meu trevo nem é
da sorte.
Mau me quer, mau
me quer, mau me quer.
E se amanhã os
sinos dobrarem em minha lembrança?
Ela terá por mim
lembranças?
Pena?
Indiferença?
Sou índio, negro
e republicano.
Ó minha pátria,
mais aguerrida,
pátria amada, Brasil.
Rodrigo Davel,
15 de março de 2013